Manual de Perícia Médica Forense
Tanatologia Forense
Sumario: Morte Aparente- Fenômenos
vitais imediatos (presuntivos de morte): Morte Real- Fenômenos vitais
Consecutivos (certeza de morte): Fenômenos Transformadores: Destrutivos e
Conservadores: Destrutivos - Autólise,
Maceração e Putrefação; Putrefação – Quatro
Fases (cromática, gasosa, coliquação e
esqueletização); Conservadores – Mumificação
e Saponificação.
TANATOLOGIA:
Tanato=Morto/Logia=Estudo/ Forense=Jurídico,
Judicial.
É o Estudo da
Morte, ou seja, o processo a que se submete o cadáver desde a fase agônica
pré – mortal ou intra-vital, até a fase de esqueletização.
Tanatologia é a parte da Medicina Legal que
estuda a morte e os problemas médico-legais dela decorrentes. Com a morte cessa
a personalidade civil do indivíduo, o que dá lugar a uma série de conseqüências
jurídicas de alta relevância.
A definição mais simples de morte
é a cessação total e permanente das funções vitais. Etimologicamente: Nós não
sabemos o que é morte, não sabemos o que é vida, correntes filosóficas,
correntes religiosas tem a sua representação a respeito da morte. Então
Tanatologia, é o que vamos estudar na verdade, é os fatos que levam os peritos,
identificar tanto do tempo, e a causa da morte. A tanatologia é o que nos leva
a afirmar que aquele individuo está realmente morto. Porém, como avanço da tecnologia médica,
surgiram novos questionamentos, principalmente em relação ao exato momento de
se considerar alguém morto.
Cronotanatognose: Crono=Tempo/Tanato=Morto/Gnose=Conhecimento
Na mitologia grega, Tanatos é
irmão de Hipnos, ambos filhos de deuses do Olimpo. O que de comum entre eles
observamos é o estado de inconsciência apresentado pelo indivíduo tanto na
morte quanto no sono.
A bem da verdade, o estudo
Tanatológico deveria se restringir apenas à morte, enquanto conjunto de
fenômenos, reservando-se o estudo do cadáver à Ptomatologia.
Porém, pelo uso, difundiu-se o
entendimento mais amplo, da Tanatogia. É na tanatologia que se estuda, por
exemplo, o tempo decorrido de morte após a ingestão de alimentos; sabendo-se
que a digestão se processa no homem em média entre 5 e 6 horas, caso sejam
encontrados resíduos alimentares no estômago, resolvendo-se o grau de digestão
a que foram submetidos, saberemos quanto tempo decorrido da última alimentação
deu-se o fenômeno da morte.
Compulsando-se vários tratados
clássicos em Medicina Legal, observamos curiosamente que a explicação para o
verbete, “cadáver” deve-se à soma
das sílabas iniciais da sentença “Caro DAta
VERmibus”, cuja tradução literal seria: “ A carne jogada aos vermes”, num
sentido mais restrito, o corpo morto.
Conceituamos morte dentro de um
conjunto de sinais mortais. Não se conceitua ou se estuda ou define morte
atualmente por um sinal, apenas.
Seria no mínimo ridículo (se não
criminoso) conceituar morta uma pessoa que apresentasse inconsciente, por
exemplo. Dessa forma, entende-se morte quando há a observação de no mínimo dois
dos seguintes momentos:
A.
Morte Aparente
B.
Morte Real
C.
Fenômenos Cadavéricos Transformativos:
a)
Destrutivos
b)
Conservadores
Note-se que o “divisor de águas”
do problema se encontra exatamente no conceito ou estado de morte real, sendo
que os fenômenos cadavéricos por si só bastam para a própria conceituação.
Define-se atualmente como morte clínica
o estado irreversível de defunção encefálica comprovada por exames específicos,
e não mais pela cessação da
atividade cardiorrespiratória.
Há que se notar a mudança
conceitual gerada: biologicamente o corpo não
esta morto; permanecem vivas trilhões de células em franca atividade, porém o
indivíduo está morto, quando o seu cérebro não mais funcionar.
Assim é que mesmo após a cessação
das atividades cardiorrespiratórias, tecidos e órgãos permanecem em atividade,
até se lhes esgotarem as reservas energéticas celulares.
Outro problema ligado ao momento
de morte é a da lesão encontrada, se intra-vitam
ou post-mortem.
Podemos ter certeza de lesão
vital quando esta se apresenta tinta de sangue em seu interstício, ou com
processo inflamatório acentuado, ou mesmo com retração dos seus bordos,
situações compatíveis somente com a vitalidade dos sistemas circulatórios e de
defesa. Ao contrário, lesões apagadas e secas, de fundo crostoso e duro, sem
retrações de suas bordas, indicam lesões pós-mortais.
Assim, resta-nos adequar os três
momentos descritos, com os fenômenos cadavéricos propriamente ditos.
E para isto, buscamos a descrição
de Borri, insigne Legista do século
passado, estudioso do assunto, que reuniu de forma didática o fato e o tempo do
fenômeno.
A
Morte Aparente
Sinais abióticos ou vitais
negativos (-)
IMEDIATOS:
a)
Midríase Paralítica (dilatação
pupilar arreflexiva, denota inatividade encefálica).
b)
Parada ou cessação da respiração
c)
Parada ou cessação da circulação
d)
Imobilidade
e)
Insensibilidade
B.
Morte Real
Sinais abióticos ou vitais
negativos (-)
MEDIATOS
OU CONSECUTIVOS:
a)
Hipotermia
Decorrente da perda calórica
corporal, por já não haver mais funcionamento dos cerebrais termorreguladores.
Em média, o corpo perde aproximadamente de 1 a 15 graus Celsius de calor para o
ambiente, por hora decorrida de morte, equilibrando a temperatura do ambiente,
por volta de 20 horas.
b)
Rigidez Cadavérica
Causada basicamente por fenômenos
bio-químicos que ocorrem dentro das células musculares, inicia-se pelos
músculos toracoabdominais e finalmente dos membros inferiores. Ao final de 24
horas, teremos a rigidez totalmente instalada, sendo que só será desfeita com o
início da putrefação, inversamente como se instalou.
Lembramos ainda o Espasmo Cadavérico,
que é a última atitude vital tomada, principalmente nos suicídios, dando
permanência ao ato derradeiro e vital,
fixado pela rigidez cadavérica.
c)
Manchas de Hipóstases ou Livores Cadavéricos
Decorrem do acúmulo de sangue nas
partes declivosas do corpo, tingindo
os tecidos. Surgem nas primeiras horas após a morte, formando um rendilhado
punctiforme; apresentam-se plenas por volta da terceira hora de morte e se
tornam fixas por volta da oitava hora decorrida de morte. Por se tratarem de
depósitos líquidos, dependem da posição que o cadáver adotar como decúbito no
momento de morte. Assim, por exemplo, um cadáver de enforcado terá hipóstases
mais acentuadas nos membros inferiores e nas extremidades distais dos membros
superiores.
d)
Dessecação ou Evaporação
Acontece principalmente em
mucosas (bucal, nasal, ocular, anal e vaginal), porém não poupa o tegumento
corporal, colado a pele e mantendo fixas as dobras existentes.
Os globos oculares sofrem a
opacificação das córneas e a perda do tônus, com isso formando as clássicas Manchas Negras da Esclera ou Sinal de Sommer & Larcher.
C)
Fenômenos Cadavéricos Transformativos
São aqueles que de alguma forma
irão alterar a estrutura orgânica e a arquitetura do cadáver, a saber: a maceração e a putrefação. Diz-se da
maceração, principalmente nos abortamentos retidos, com feto morto
intra-úterino e nos corpos mantidos submersos em seio líquido, principalmente
na água. Isto acontece porque, sendo a água o solvente universal, há a
embebição do corpo, e a dita maceração nada mais é que a dissolução pela água,
ou hidrólise.
Quando intra-útero, notamos um
feto com o cordão umbilical hemorrágico, a pele totalmente despregada expondo a
derme muito avermelhada (epidermolise), mecônio=Primeira fezes do RN em alças intestinais (liquido amniótico
digerido)=liquido da placenta,
ou mesmo saindo pela boca e ânus; pulmões de características francamente
compactas (dito padrão fetal) e os ossos do crânio soltos. Mecônio: Trata-se do material acumulado no tubo intestinal do feto,
durante a gestação. Aparece ao terceiro mês de gestação, tem cor acinzentada e
consistência pastosa. Inicia-se no duodeno, ao sétimo mês esta no delgado e no
oitavo atinge o intestino grosso. Contém células intestinais, elementos
biliares e elementos de origem amniótica. Estes dados permitem a sua
identificação.
A maceração assim se apresenta
após decorridos 5 ou 7 dias de morte intra-uterina, sem que se instale a
putrefação, exatamente por ser o meio isento de bactérias o que fatalmente ocorre
após a expulsão do feto ou sua extração, agora entrando em decomposição plena,
como veremos a seguir. A maceração do cadáver submerso ocorre paralela à
putrefação, já que o ambiente líquido não é estéril.
Recado para as mulheres: Menstruação – fluxo de sangue
eliminado pelo útero, em geral uma vez por mês. Corresponde a eliminação de uma
camada de revestimento interno da cavidade uterina. Esse revestimento
corresponde a uma preparação para o desenvolvimento de uma gravidez. Não tendo
havido fecundação esse revestimento é eliminado sob a forma de sangue
menstrual.
a)Destrutivos
Com a queda dos sistemas
encefálicos superiores, as unidades celulares permanecem algum tempo em
funcionamento, formando catabólicos que vão acidificando o ambiente celular de
forma tal a destruir a unidade celular.
A esse processo damos o nome de Autólise, momento indelével da morte
celular e início bio-químico da putrefação.
Entre 20 e 24 horas, o processo
fermentativo bacteriano existente no tubo digestivo passa a ser visualizável;
esse fenômeno é conhecido como Mancha
Verde Abdominal, ocorrendo na fossa
ilíaca direita, pela proximidade do ceco (local do apêndice vermicular),
início do tubo intestinal grosso (cólon ascendente), com a pele da parede
abdominal; é esse sinal que marca o início dos fenômenos transformativos
Destrutivos, pela fase Cromática ou de
coloração (primeira fase dos destrutivos).
Esse processo acontece pela
formação de gás sulfídrico (H2S+) bacteriano que, se combinando com a
hemoglobina do sangue, cria um novo composto esverdeado denominado Sulfometahemoglobina.
Vale a pena lembrar que a mancha
verde sempre acontece na fossa ilíaca
direita, excluindo-se apenas os cadáveres de afogados que apresentam a referida mancha na parte superior do tórax e pólo cefálico.
A continuar o exagerado
desenvolvimento bacteriano, os gases decorrentes começam por aumentar
tremendamente as pressões intra-cavitárias (caixacraniana, tórax e abdome),
fazendo com que o sangue já parcialmente putrefeito busque áreas de menor
pressão; assim é que se forma um mapeado dérmico conhecido como Sinal da
Circulação Pós- Mortal ou Circulação Retrógrada de Brouardell.
Em decorrência dessas mesmas
pressões acontece a protusão=Inchaço
Lingual e ocular, o agigantamento
do cadáver nos indivíduos do sexo masculino o aumento volumétrico da bolsa
escrotal, e no feminino grávido o “parto pós-mortal”.
Encontramos ainda nessa fase a
formação de flictenas putrefativas, como descolamento em massa da pele do
cadáver. A esse conjunto de características damos o nome de Fase Gasosa da Putrefação (segunda fase
dos destrutivos). Tem na fase descrita posição de destaque o“Fácies Negróide”,
apresentação comum de qualquer cadáver.
Sem nenhum impedimento de ordem
funcional, um número incontável de bactérias, agora auxiliadas por outros
animais necrofágicos, utilizando o corpo do cadáver, como meio de cultura,
desagrega e destrói a arquitetura orgânica. Não podemos mais diferenciar os
tecidos em separado; verte do cadáver além dos gases de putrefação um liquido
pútrido que somado aos tecidos desorganizados da aparência disforme ao corpo,
nesse momento emergem os processos ósseos mais proeminentes; esqueletizam-se o
crânio, as mãos e pés, se descalços.
O cadáver se “enxuga” pela perda
hídrica a que é submetido. A essa fase damos o nome de Coliquativa (terceira fase dos destrutivos).
Sendo o corpo literalmente
devorado por uma plêiade de insetos e animais necrofagicos, as únicas estruturas
que resistem á sanha insaciável são os ossos, terminando por fim o “lauto
banquete necrológico”, sendo dado a observar-se apenas os ossos limpos de suas
coberturas carnosas. Damos a essa quarta e última fase o nome de Esqueletização (quarta fase dos
destrutivos).
b)Conservadores
São aqueles que por motivos
ambientais, somados aos individuais do cadáver, alteram a marcha dos fenômenos
destrutivos, estabilizando os procedimentos acima descritos em algum momento da
putrefação, impedindo que o cadáver atinja a fase de esqueletização. Assim
teremos as duas figuras clássicas e freqüentes da Adipocera e a da Mumificação.
Adipocera
– Cadáveres de
indivíduos com panículo adiposo farto, inumados em terreno ou locais de grande
umidade, frios, e pouco ventilados, tendem a transformar os ácidos graxos em
sabões, impedindo a proliferação bacteriana, como num processo de
auto-esterelização, denominado Saponificação
ou Adipocera.
Mumificação – Se, ao contrário, tivermos um
cadáver de indivíduo magro em ambiente seco, bem ventilado e quente, a sua
dessecação será tão intensa, que por falta de condições apropriadas, as
bactérias não poderão sobreviver e secando completamente, o corpo se
mumificará.
Mumificação
Fetal – fenômeno
raro pelo qual o feto morto na cavidade uterina, - desidrata se, atrofia se,
definha e fica como que enquistado, não sendo eliminado.
Tudo o que foi dito anteriormente
no tocante aos fenômenos transformativos conservadores, refere-se aqueles
naturais, não se olivando daqueles artificiais como as técnicas egípcias e os
interessantes casos dinamarqueses de conservação de corpos em sítios com
saturação do solo por ácido tânico (tanino), com idades ao redor de 400 anos.
Estou completamente apaixonada pela Tanatologia Forense...
ResponderExcluirAchei o seu blog por acaso, procurando novas informações sobre medicina legal, e posso dizer que foi muito útil para os meus estudos!
Parabéns pelo excelente trabalho Prof. André!
Prof.Andre maravilhoso,completo....Amei !!!Bj Renata A.Yelken
ResponderExcluirUi, tenebroso, assaz tenebroso...brrrrrlll !
ResponderExcluirObrigado a todos que entraram
ExcluirProf. André Menezes
Excelente material, me ajudou muito!
ResponderExcluirperfeito o material obg
ResponderExcluirGostei Professor! só uma dúvida: alguns autores relatam o processo de rigidez iniciando pelos membros inferiores e continuando no sentido ascendente do corpo e seguindo caminho inverso quando se desfaz. O que o senhor acha?
ResponderExcluirAmigo, de acordo com a Lei de Nysten-Sommer, a Rigidez cadavérica se inicia na 1° á 2° hora após a morte a partir da nuca e da mandíbula, seguindo dos membros superiores, toracicos e inferiores por volta da 8° hora para estes ciclos. Já no inicio da putrefação cadavérica, já á FLACIDEZ cadavérica se inicia >>DA MESMA FORMA, PARTINDO DA NUCA PARA AS DEMAIS PARTES DO CORPO seguindo a mesma sequencia do inicio da rigidez. Espero ter ajudado! Abraços
ExcluirQueria saber o porquê do estetoscoópio kkkkkkk vais auscultar o cadáver? hauhauhauahuahauh
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